Os anos mudam, vão se as roupas, os calçados e acessórios. Só uma coisa não muda: as melhores crônicas sempre vem do transporte público.
Ela entra no ônibus. Eu já estou lá, no último banco. Ela senta ao meu lado naquele renegado lugar na direção do corredor. E, claro, ela está de saia. Eu também estou usando saia. A minha, de flores miúdas; a dela, grandes rosas sobre fundo preto.
(Foto: Pinterest)
Ela nota a presença da minha saia.
– Que saia linda essa sua!
– Obrigada! Comprei faz um mês em uma loja nova do shopping.
– Faz tempo que não vou ao shopping…
– A sua saia também é muito bonita.
– Ah, muito obrigada!
– Onde você comprou?
– Em um brechó.
– Sério? Que legal… Faz tempo que não vou em brechós.
– Tem um muito legal perto do hospital. Você conhece por ali?
– Conheço, mas nunca reparei em brechó.
– Mas tem ali, logo em frente. É ótimo, já comprei várias coisas lá.
– Vou ver se passo lá um dia…
Silêncio. Sem conversas sobre o tempo, o trânsito, o sentido da vida. Quando um rapaz saiu do banco próximo à janela, ela saiu daquele banco fatídico e foi para o outro assento.
Olhei novamente para a saia dela. Era tão bonita quanto a minha. E ela não era a primeira pessoa a se deixar embonitar por essa saia. Saia que já saiu por aí em outra pessoa. Ou não, foi parar no brechó com etiqueta e tudo até parar na arara. E depois no guarda-roupa e no coração daquela menina.
Crônica dedicada a você, que, como eu, está precisando fazer uma faxina daquelas no seu guarda-roupa. Não perca mais tempo: você pode achar tesouros que nem lembrava mais que possuía. Ou peças que podem se tornar tesouros para outras pessoas.
(Foto: Pinterest)
Deixe um comentário